top of page

Morna - A voz da Alma Cabo-verdiana

  • Foto do escritor: Sopro Cultural
    Sopro Cultural
  • 11 de mai. de 2018
  • 2 min de leitura

Eugénio Tavares, o Grande Reformador e Renovador da Letra e Música da Morna.



A Morna é originária da Ilha da Boavista. Passou depois às outras ilhas, adaptando-se e tomando a feição psíquica de cada povo, como que num gráfico de ascenção ou descenção em sua expressão artística.

Na Boavista não se elevou na linha sentimental; antes, planou baixo, rebuscando os ridículos de cada drama de amor; cantando o perfil caricatural de cada episódio grotesco, ironizando fracassos amorosos, sublimando a comédia gentílica das Moias (naufrágios de navios tão frequentes nas costas da ilha), tudo no estilo leve e arrebicado que afeiçoa a vida despreocupada do povo boavisense, o mais alegre, e o mais amorável de entre as gentes do Arquipélago. Música elegante psicatada de sorrisos finos e harmonias ligeiras.

Na Ilha Brava a terra em que os homens casam com o mar, como no poema de Pierre Loti, a dulcíssima estância da saudade, mercê da vida aventureira e trágica do seu povo a morna fixou os olhos no mar e no espaço azul, e adquiriu essa linha sentimental, essa doçura harmoniosa que caracteriza as canções bravenses. Elevou-se de riso a pranto, e finou, amorosamente, pelo portuguesíssimo diapasão da saudade.

Quem escreve estas linhas passou tardes de literatura, muito intímas, na Casa do Castelo, da família Arrobas, nesta vila, onde residiu Serpa Pinto, lendo versos de sua pobre lavra ao ilustre Governador e ao Almirante Augusto de Castilho, então de passagem na Ilha.


Eugénio Tavares

A história que inspirou o Poeta a compor a morna "Mar Eterno", contada por José Osório de Oliveira, intelectual português que conviveu com Eugénio Tavares:

Um dia aportou à ilha Brava o iate Fabulous. Uma jovem americana acompanhava o pai, em viagens de estudos e recreio. Eugénio, belo moço de tez branca, gentleman de porte distinto mas sem meios de fortuna e cabo-verdiano, apaixonou-se e foi correspondido. Foi o primeiro dos grandes amores da sua vida. Mas, no dia em que o americano descobriu a paixão romântica da filha, o iate pela calada da noite levantou o ferro e desapareceu no horizonte sem que o jovem pudesse despedir-se da sua amada. Eugénio, pela manhãzinha, como era seu costume, dirigiu-se ao miradouro da Cruz Grande para rever a Furna e o Fabulous. Perante a Furna deserta, Eugénio revolta-se e inconsolável recorre como era seu hábito à sua guitarra e compõe o Mar Eterno - Canção ao Mar (ver à direita).

Este caso impressionou profundamente a alma romântica dos cabo-verdianos, povo de sensibilidade bastante para compreender os dramas de amor. As vozes da ternura e do sonho da população acarinharam o poeta nessa prisão liquida que o separava do mundo. Surgiu assim a Canção ao Mar, o Mar Eterno para o povo, cuja música trazia um acento de inultrapassável nostalgia. Estavam criadas as condições para os grandes voos líricos do poeta. Seguem as suas melhores composições. O amor, a mulher, a saudade são temas que o vão imortalizar. Estava vencida a lei da morte por Eugénio Tavares. Este é o testemunho de José Osório de Oliveira e Augusto Casimiro em conferências literárias, proferidas em Lisboa em 1944, catorze anos após a sua morte, bem como dos familiares e bravenses que viveram nessa época.

Comments


  • Facebook B&W
  • Instagram B&W
© Copyright

© 2023 SOPRO CULTURAL

bottom of page